Esta saindo para curtir a noite com amigos? Antes, preste atenção nas "variáveis" relacionadas ao álcool, que podem alterar ou prejudicar sua "festa" ou "vibe".
O álcool é um psicoativo legal e como todos outros legal/ilegal, deve ser usado com responsabilidade e equilíbrio. Para isto aqui sugerimos algumas recomendações e alertas para seu uso recreacional:
!) As respostas emocionais e comportamentais são muito variadas entre os indivíduos. Assim cada um tem que conhecer as consequências e vulnerabilidades que o álcool produz no seu organismo.
2) O álcool inibe a metabolização no fígado, pois é uma das substâncias que mais exige o trabalho de biotransformação e a disponibilidade de substratos (ex enzimas) para as reações. Então lembre-se, quanto menos misturas melhor será para o seu figado e saúde.
3) Como o álcool exige muito do fígado qualquer substância usada em conjunto corre o risco de: 1) Não fazer efeito por ser uma substância que precisa da biotransformação no fígado, para produzir seu efeito; ou 2) Fazer efeito mais intenso e por mais tempo, por não sofrer metabolismo no figado, sobrecarregado pelo álcool, necessário para sua eliminação e término dos efeitos (denominado na farmacologia de meia-vida).
**Isto não impede que, ao sentir-se muito estimulado ou trêmulo pelo efeito dos estimulantes, por exemplo, use com intuito de diminuir a excitabilidade do sistema nervoso. Conhecido nas baladas "para baixar o efeito". Importante: não exagere o uso combinado de um estimulante + depressor pode causar uma resposta inesperada e individual, por exemplo convulsão.
4) Não faça uso de álcool e paracetamol. Os dois competem pelas mesmas enzimas no fígado. E se fazer uso de algum anti-inflamatório, o mais indicado com álcool é o ibuprofeno. O diclofenaco (cataflan, voltarem) não é recomendado, pois tanto o álcool como estes antiinflamatórios agridem a mucosa do estômago. Se tem gastrite ou úlcera estomacal, nem pensar.
5) Apesar de ouvirmos opiniões de que não são eficientes os produtos farmacêuticos com aminoácidos, ex epocler (contém 3 aminoácidos: dl-metionina, colina e betaína), para proteger o fígado ou tratar a ressaca, isso não procede. Exemplo, a acetilcisteína, o antidoto específico para intoxicação por paracetamol. Esta produz no organismo o aminoácido L-cisteína, indispensável como antioxidante e protetor das células do fígado danificado pela oxidação produzida pela overdose de paracetamol.
* Então estes produtos podem ser usados antes da ingestão de álcool, como protetores ou depois na ressaca.
6) É muito comum o uso de cocaína com álcool, para produzir um equilíbrio depressor/estimulante. Cuidado, pois apesar de já existirem estudos, pouco se sabe a importância e os danos reais causados pelo "cocaetileno". Metabólito formado, já no interior do organismo, pela biotransformação do álcool + cocaína. Que é bem mais potente que a cocaína "in natura", que foi introduzida no organismo. Semelhante efeito, é a combinação alcool (vodka) + energéticos.
7) Cuide na associação do álcool com outros depressores do sistema nervoso. Pois o álcool é considerado tanto um estimulante (e ansiolítico) na primeira fase dos efeitos, como um potente depressor, na segunda fase. E o efeito depressor varia conforme a quantidade ingerida (concentração sanguínea) e associação com outros fármacos, tanto psicoativos, também depressores, como outros fármacos ingeridos.
*Dos depressores mais fortemente associados a riscos e danos, em associação com álcool, estão, sem sombra de dúvidas, os benzodiazepínicos (bzd), como o diazepam, alprazolam, clonazepam, flunitrazepam, etc.. Estes, muito usados atualmente para várias finalidades, médicas (ansiedade, insônia, fobias, etc) e, mais recentemente, recreacionais ou nas "after party's", para reduzir a aceleração e causar relaxamento. Temos informações do uso, não raro, de Xanax (Alprazolam) e Rohypnol (Flunitrazepam), em festas e nos "pós-festas".
**Muitos estão usando o Rohypnol, um tranquilizante aproximadamente 10 vezes mais potente do que o diazepam (valium). A substância está disponível como um comprimido branco ou verde–oliva e é normalmente vendido na embalagem de bolha do fabricante. E os consumidores esmagam os comprimidos e inalam o pó, salpicam–no na marijuana e fumam–no, ou dissolvem–no em uma bebida e até injetam-se.
***Cuidado: o risco é muito grande. Os bzd "potencializam muito" os efeitos do álcool. Não é somente a "soma" dos efeitos (sinergia), mas sim "aumentam" (potencialização), de forma incerta e variável, os efeitos do álcool. Esta potencialização depressora varia conforme o bzd, tipo de bebida alcoólica (destilado, fermentado, etc), teor alcoólico e condições individuais (figado, rim e outros medicamentos em uso). O "coma alcoólico" pode ocorrer com uma quantidade pequena de álcool, quando associados aos bzd.
8) Evite também combinar uso excessivo de álcool com a cannabis. A depressão e queda da pressão sanguínea, somados ao relaxamento muscular produzidos pela cannabis+álcool são fatores de riscos importantes.
9) Muito importante é lembrar que o álcool é o maior causador de acidentes e mortes no trânsito. O álcool é um estimulante e depressor potente do sistema nervoso central, e a intensidade da depressão depende da quantidade ingerida, teor alcoólico e características individuais. Ao ingerir o álcool, mesmo que você sinta-se bem e alerta, existe um diminuição significativa do foco e alerta, e dos reflexos sensoriais e comportamentais. Ou seja, neste caso, ocorre um retardo na transmissão das informações sensitivas, do meio externo para o cérebro. E deste modo, também um retardo na execução das respostas neurocomportamentais, ou execução dos comandos do sistema nervoso.
Nota: "educação para o trânsito também é educação para o álcool."
10) Em caso de ingestão excessiva do álcool, com excessivo torpor e sedação, coloque a pessoa deitada em lugar sem riscos. Se consciente, faça ingerir bastante líquidos, pode ser com um pouco de açúcar (glicose), para acelerar a metabolização e eliminação. Coloque o individuo com a cabeça um pouco mais elevada e coloque-o de lado, e não barriga para cima. Como os reflexos estão alterados, pode ocorrer aspiração para o pulmão de conteúdo estomacal durante o vômito, e asfixia.
O melhor é curtir sem "bad's trip's", e sem riscos nocivos das "misturas recreacionais".
Redutores de danos: compartilhem "a informação e o cuidado". E boas vibrações neste fim de semana!
Vanusa Maria Bispo: neurocientista, professora adjunta de neuropsicofarmacologia (UDESC) e editora da página @Redução de Danos e do Pscience Blog
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